S I S T E M A P O É T I C O

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Textos selecionados dentre os autores mais interessantes do Sistema

quinta-feira, 25 de março de 2010

Haicais




IV
A coruja espera
no silêncio do espanto
a noite chegar.

VII
O século gira
pela encosta da montanha
nas ondas do vento.

XI
Se deténs a noite
no arcabouço das estrelas
libertas o dia.

XXX
Densa escuridão.
Bússolas de vaga-lumes
mostram os caminhos.

XXXI
O fio do tempo
tece a noite devagar
e assim anoitece.

LIII
Sobre o corpo rosas.
De espinhos adornou a cama.
Partiram as almas.

LX
Folheia-se o livro
sozinho nas entrelinhas
decifrando vidas.

LXIV
Se pedras dormentes
sonham com a permanência,
que dirão as pétalas?

LXX
Solfejam ruídos
na consumição do tempo
inventando luas.

LXXV
Solidão do tempo.
As mãos tateiam as trevas
construindo luas.


Telma de Figueiredo Brilhante
[extraídos do livro Sendas do Oriente - Haicais]

Professora, Orientadora de Pós-Graduação e Escritora. Membro da União Brasileira de Escritores/UBE-PE, da Academia de Letras e Artes do Nordeste/ALANE, do Grupo Literário Celina de Holanda e da Sociedade dos Poetas Vivos de Olinda/SPVO.

terça-feira, 23 de março de 2010

Aconselhado



Revisado como um livro
a ser escrito
ou um rascunho
transcrito em dias

Corrigido em conselhos
agraciado pelos
meus ouvidos

Escutei e
reaprendi...
sou um aluno
da doce vida


Leo Durval
Poeta e filósofo pernambucano

terça-feira, 9 de março de 2010

Minha Primavera



Eu gosto da primavera
Porque tem muitas flores
De todos os tipos
E todas as cores

Também as borboletas
Que são carinhosas
Muito bonitas
E muito dengosas

Durante a primavera
Os pássaros cantam
E brincam nas árvores
E a todos encantam

O mar ainda está frio
Começando a aquecer
O vento vem soprando
À noite e ao amanhecer

Escrevi sobre a primavera
Minha estação preferida
Nesta época eu nasci
E comecei minha vida

Nataly Caetano de Sá
[11 anos - Minha sobrinha]

segunda-feira, 8 de março de 2010

Alma de Mulher

Arte: Michael Garmash


Dos anjos as asas
Nos vôos poéticos
Dos versos que ensina
A compor sua graça.

Missiva dos sonhos
Perfume dos lírios
Coração para amar
Despertas qual sino
Sentimentos para cantar.

Molduras o amor
Na liberdade dos ventos.
Sua face de flores
É ternura que desperta amores.

Tens das abelhas
O tecer da doçura
Teu sorriso é laço
Adereço que enfeitiça.

Cântaro de águas refrescantes
Hidratas as outras almas
Dos ressequidos desencantos.

Pérola refugiada
No seio amante
É tu, alma de mulher,
Fulgor das cores
No matiz brilhante.


Jair Martins
Poeta e Tesoureira da UBE-PE

domingo, 7 de março de 2010

08 de março - Dia Internacional da Mulher

Minha homenagem às mulheres está descrita na forma de crônica, publicada no Blog César dos Anjos, com link a seguir:

http://cesardosanjos.blogspot.com/

Ou clique no título da crônica: O MISTÉRIO.
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quinta-feira, 4 de março de 2010

Louvor ao Estudo




Estuda o elementar: para aqueles
cuja hora chegou
não é nunca demasiado tarde.
Estuda o abc. Não basta, mas
Estuda. Não te canses.

Começa. Tens de saber tudo.
Estás chamado a ser um dirigente.
Freqüente a escola, desamparado!
Persegue o saber, morto de frio!

Empunha o livro, faminto! É uma arma!
Estás chamado á ser um dirigente.
Não temas perguntar, companheiro!
Não te deixes convencer!
Compreende tudo por ti mesmo.

O que não sabes por ti, não o sabes.
Confere a conta. Tens de pagá-la.
Aponta com teu dedo a cada coisa
e pergunta: "Que é isto? e como é?"
Estás chamado a ser um dirigente.

Bertolt Brecht

Eugen Berthold Friedrich Brecht: Poeta, dramaturgo e encenador alemão nascido em Augsburg, em 1898 e falecido em Berlim, em 1956.

O que é (Was es ist)



É absurdo
diz a razão
É o que é
diz o amor

É infelicidade
diz o cálculo
Nada além de dor
diz o medo
É vago
diz o juízo
É o que é
diz o amor

É ridículo
diz o orgulho
É leviano
diz a prudência
É impossível
diz a experiência
É o que é
diz o amor

Erich Fried [Viena, 1921 - Baden-Baden, 1988]

Poeta, tradutor, ensaísta, judeu e austríaco.

terça-feira, 2 de março de 2010

As Pombas




Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada...

E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...

Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais...


Raimundo da Mota de Azevedo Correia [1859-1911]

Juiz e Poeta brasileiro, nascido em São Luís, Maranhão, e falecido em Paris. Fundador da cadeira nº 5 da Academia Brasileira de Letras.

A Uma Ausência



Sinto-me sem sentir todo abrasado
No rigoroso fogo, que me alenta,
O mal, que me consome, me sustenta,
O bem, que me entretém, me dá cuidado:

Ando sem me mover, falo calado,
O que mais perto vejo, se me ausenta,
E o que estou sem ver, mais me atormenta,
Alegro-me de ver-me atormentado:

Choro no mesmo ponto em que me rio,
No mor risco me anima a confiança,
Do que menos espero estou mais certo;

Mas se de confiado desconfio,
É porque entre os receios da mudança
Ando perdido em mim, como deserto.


Pe. António Vieira [1608-1697]
Religioso, escritor e orador português, nascido em Lisboa e falecido na Bahia.