com o beijo da serpente
mordo profundamente
a jugular da tua alma
instilo o medo da morte
no mistério do teu sangue
lá onde anseias liberdade
sou Lilith revoltosa
súcubo desejosa
dos sonhos dos filhos de Eva
Dashnavar que te suga
pelo solado dos pés
roubando-te a realidade
sou Lamia, sou jararaca
teu filho chupa minha cauda
enquanto sugo teu leite
retorno do mundo dos mortos
entoando macabro coral
junto às crianças da noite
túmulos gradeados
por baixo da lua cheia
será que me deterão?
Gerusa Leal
[extraído de "Versilêncios", 2008]
"A poetisa consegue evitar a armadilha do psicologismo, sem abrir mão do conteúdo afetivo e da forte tensão emocional que inspira a escrita poética. A sua maneira para lidar com essa tensão foi, a meu ver, praticar uma poesia metafísica que tem ao mesmo tempo um tom sinceramente lírico. Por isso, o seu lirismo tem a particularidade de não ser somente a expressão de um Eu, mas também, e sobretudo, a elucidação do enigma do Eu. Seria algo como um lirismo objetivo, uma postura pela qual a poetisa toma a sua própria consciência como objeto, e ao mesmo tempo tenta se reapropriar dela: busca impossível, pois o objeto poético último é uma flor de gelo, uma flor mineralizada, desvitalizada. O poema perfeito é a morte." Stéphane Chao
Maravilhoso, a Gerusa encarnou o personagem.
ResponderExcluirBeijo, Gerusa.
Jade
Não sabia desse meu poema postado no seu espaço, César. Que bela ilustração. Feliz aqui com dua psotagem ao lado de tantos excelentes poetas. Abraço e obrigada.
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