S I S T E M A P O É T I C O

_______________________________________________________
Textos selecionados dentre os autores mais interessantes do Sistema

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Poemas de Antonio Cicero


Síntese

PAI MÃE
CÉU CHÃO
MÃE CÉU
PAI XÃO

______________________________________

Nihil

nada sustenta no nada esta terra
nada este ser que sou eu
nada a beleza que o dia descerra
nada a que a noite acendeu
nada esse sol que ilumina enquanto erra
pelas estradas do breu
nada o poema que breve se encerra
e que do nada nasceu

________________________________________

O fim da vida

Conhece da humana vida
a sorte:
o único fim da vida
é a morte
e não há, depois da morte,
mais nada.
Eis o que torna esta vida
sagrada:
ela é tudo e o resto, nada.


Antonio Cicero
Compositor, Poeta, Filósofo
Do livro "Porventura"

Pelo Espaço Sideral




Ele não é dessa galáxia,
definitivamente.
Talvez exista em outra dimensão,
talvez não.
É possível que tenha sido
engolido
por um buraco negro,
absurdo,
ou seja feito de matéria negra
e eu não possa enxergar,
apesar de estar preenchendo
o espaço que me rodeia.
E se for aquela estrela
que brilha por mim de madrugada
é romântico,
mas pouco prático.
Eu busco o prático!
Busco a forma e a matéria,
e a união de mundos subjetivos
e habitáveis.


Flávia Marques
Excelente Poetisa!

http://luanaetrintaalmas.blogspot.com.br/

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Poema Suspenso Dentro do Recife




Moro no Alto Recife
libertário como todo nativo
de nuvens concretas que as cores sangram
num canto edificado
sem margens e rios
ruas me habitam sem medo
árvores abrem portas e janelas
e a cidade tem mais igrejas
do que as 365 igrejas da Bahia
todos os dias as formas ganham sonhos
a sorte é um poema experimental de Deus
nas paredes aéreas do meu bairro
antigo como a história de ontem
e o menino que fala por mim
na várzea urbana do meu cérebro
além deste lugar a cidade é uma festa
fabricada como um carnaval
e eu nunca escreverei sobre a tristeza
porque no Alto Recife onde moro
o mar se enche de céu
e o sol abraça todo mundo
sem hora marcada


Juareiz Correya
(da antologia Poesia Viva do Recife)

Juareiz Correya nasceu em Palmares-PE. Vive no Recife. É diretor editorial da Panamérica Nordestal e do site da editora. Organizou e publicou as antologias Poetas dos Palmares e Poesia Viva do Recife. Livros de Poesia: Americanto Amar América (2010), Coração Portátil, e-book (2011). Publica 03 blogs literários.

Poema do Beco




Que importa a paisagem,

a glória, a baía,

a linha do horizonte?


O que eu vejo é o beco.


Manuel Bandeira


segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Irmãos


Aos meus irmãos que tanto amo!


Somos partes recortadas de um todo
que, um dia, foram nossos pais;
olhos de um, boca de outro,
e um jeito de falar que não há mais.

Meus companheiros, meus irmãos,
o meu esteio;
nos embalaram as mesmas mãos,
o mesmo seio,
somos os frutos de um amor já existido;

Não penso em nada
sem vocês virem primeiro,
são por acaso o que eu
teria escolhido.


Flávia Marques, autodefinida "escritora, blogueira, professora de xadrex".
http://www.luanaetrintaalmas.blogspot.com.br


sábado, 8 de setembro de 2012

NO DIA DOS PAIS



Somente bons exemplos tu mostravas
Mesclados de bondade e carinho
Jamais na vida me senti sozinho
Pois onde eu estivesse tu estavas.

Além de pai eras um amigo
Herói das minhas tantas fantasias
Reduto imensurável de alegrias
A minha segurança,o meu abrigo

Contemplo hoje os teus cabelos brancos
Rugas marcantes de um tempo ido
E ambos, rimos um ao outro, francos.

Quero abraçar-te em plena alegria
Beijar-te a face, meu papai querido,
E homenagear-te no teu dia


28/julho/2012
Carlos Celso Uchoa Cavalcante

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Soneto do desmantelo azul




Então, pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas,
depois, vesti meus gestos insensatos
e colori as minhas mãos e as tuas.

Para extinguir em nós o azul ausente
e aprisionar no azul as coisas gratas,
enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre vestidos e as gravatas.

E afogados em nós, nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço.

E perdidos de azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um Sul
vertiginosamente azul. Azul.



Carlos Pena Filho (Recife-PE, 1929-1960)

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Poemas de Ondjaki



Prendisajem

o tomate avermelha mundos.
o cheiro da terra perdoa constipações.
folha é parede verde
para sol chegar.
flor é uma outra narina de abelha.
alcunha de qualquer jardim
é biolabirinto.
a exagera em
amizades com a merda.
o pirilampo é a lanterna do poeta.
o porco-espinho exagera em
modos de precaução e
a mandioca tuberculiza o chão.
...
o cheiro da terra rejuvenesce a humanidade.


Arve jánãoélógica

ser folha é
nem sempre estar para sol.
a outra folha
lém de nossa vizinha
pode ser nossa irmã de sombras.
a folha
enquerendo ser lago
acontinenta o galho.
o galho
ensendo fio de cabelo
gentifica a arve.
a arve
de tanto ser ela
lembra um sorriso quieto.
lém de transpirar
bonito é que ela respira.


Penúltima vivência

quero só
o silêncio da vela.
o afogar-me
na temperatura
da cera
quero só
o silêncio de volta:
infinituar-me
em poros que hajam
num chão de ser cera.


Ondjaki, Poeta Angolano, do livro "Há prendisajens com o xão (o segredo húmido da lesma & outras descoisas)".

Poemas de Maiakóvski


Balalaica

Balalaica
[budto laiem oborvala
scrípki bala
laica]
[s laiem oborvala]
oborvala [s laiem]
[láiki bala]
láicu bala
laica

1913


Balalaica
[como um balido abala
a balada do baile
de gala]
[com um balido abala]
abala [com balido]
[a gala do baile]
louca a bala
laica

(Transcriação de Augusto de Campos)

Istchérpivaiuchaia Cartina Viesni

Listótchki.
Póslie strótchec lis
tótchki.

1913


Quadro Completo da Primavera

Folhinhas.
Linhas. Zibelinas só-
zinhas.

(Transcriação: Augusto e Haroldo de Campos)

Iech ananáci

Iech ananáci, riábtchicov jui,
Dienh tvoi posliédnii prihódit, burjui.

1917

Come Ananás

Come ananás, mastiga perdiz.
Teu dia está prestes, burguês.

(Transcriação de Augusto de Campos)

Vladímir Vladimirovitch Maiakóvski (1893-1930), "o maior poeta russo moderno", segundo Haroldo de Campos.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Poema de Millôr Fernandes


Toda noite aqui
Sol em vidas distantes
Que vejo e sigo
Na escuridão da insônia
Projeções infinitas
No avesso das pálpebras
Sem som e sem enredo
Gente silenciosa
Andando e andando
Em minha solidão
De esplendor e medo


Extraído do livro KAOS